quarta-feira, 23 de março de 2011

Teletransporte

Meus pés estão gelados, meus olhos perdidos, meu coração pesado. Não escuto o que me falam porque meus pensamentos estão longe demais. Fecho os olhos com força para ver se assim, por algum milagre do universo, consigo me transportar para perto de você.
Abro os olhos. Me olham com curiosidade.
- Você tá bem?
- To. To sim.
E sorrio.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Janela

Ela olhava pela janela, mas não via a cidade passar. A janela do ônibus era como se fosse uma janela para suas lembranças. Nos ouvidos a música que fazia com que se lembrasse dele, como tantas outras faziam.
Ela quase podia sentir suas mãos em seu rosto, ver seu sorriso, ouvir sua voz, sentir seus dedos quentes, seus olhos castanhos, seus braços e seus beijos a envolvendo.
A fumaça no ar.
Podia lembrar de uma conversa ou criar outras que nunca aconteceram.
Andar pela cidade quente, ouvir a chuva cair, deitar na cama pequena, sentir sua respiração, seu coração.
Podia quase tocá-lo.

Uma freada brusca – ela despertou.

Só mais uma alma saudosa na cidade.

-

- Não consigo viver com superficialidades.
- Um dia você ainda se afoga em toda essa profundidade.
- Não ligo. Prefiro me afogar a ficar no raso. Na lama.

Domingo, 11 de julho de 2010

Quando eu disse que o que me incomoda em você é que eu não consigo te entender, você me disse que pensar que entende alguém é pior do que realmente não entender. Disse que eu não entendo ninguém.
Talvez você tenha um pouco de razão, ninguém conhece nem mesmo a si mesmo completamente, é pretensão demais pensar que eu posso conhecer totalmente alguém. Mas eu tento. E tem aquelas pessoas que te deixam ver como elas são, o que elas pensam, que deixam você ter uma ideia do que você pode ou não esperar delas. E eu sou boa em analisar pessoas.
Mas você não. Você não deixa, eu nunca sei o que esperar de você, nunca sei o que você pode estar pensando e qual pode ser sua próxima decisão. Tenho medo que de uma hora para outra você desista e eu nem ao menos veja isso chegando, mesmo que você tenha me dito que não vai desistir. Eu não sei o que esperar de você, fico sempre na incerteza, na corda bamba, balançando pra lá e pra cá e tentando usar a confiança para me equilibrar, como se fosse um guarda-chuva. Mas você sabe que meu equilíbrio não é dos melhores e que a qualquer momento eu posso cair. E depois que eu cair vai ser difícil de juntar os cacos.
Então eu espero sinceramente que você esteja embaixo para me segurar.
Por favor?

Segunda-feira, 5 de julho de 2010

Eu queria que você me pedisse para ficar. Dissesse que não devo ir, que meu lugar é perto de você, que você precisa de mim. Queria que você dissesse que me ama e que sem mim seus dias perdem um pouco da graça. Que você segurasse meu braço, olhasse nos meus olhos e eu pudesse ver tudo isso nos teus.
Queria que você me pedisse para ficar. Mesmo que nós dois saibamos que eu não posso agora.
Porque eu quero ficar.
Porque então eu saberia que um dia eu iria, e dessa vez seria definitivo.
Mas você não vai pedir.

Sexta-feira, 02 de janeiro de 2009

Hoje eu queria o mar.
Subir na pedra mais alta e abrir meus braços, sentindo o vento salgado soprar meus cabelos para longe, junto com meus pensamentos. Trazer para perto quem eu gosto, me encher de sentimento inexplicável que só poderia extravasar através dos meus olhos, por pequenas gotas de oceano; gotas que salgariam meu sorriso, que naquele momento brilharia tanto que, envergonhado, o sol se esconderia atrás da linha do horizonte.

Sexta-feira, 20 de junho de 2008

Está chovendo lá fora.
Os pingos alcançam o chão, o som preenchendo o ar com uma música calma e melancólica. Eu fecho meus olhos, imaginando sentir as gotas e o vento que escuto. E eu não canto, só escuto - me parece errado interromper a melodia. Ela embala meus pensamentos, delicadamente.
Abro a janela.
O vento sopra no meu rosto e o cheiro da terra molhada enche meus pulmões.
Eu sinto aquele vazio no peito, aquele aperto. A inquietação que sozinha não consigo acalmar, o vazio que parece se preencher com você, mas que retorna. Sempre retorna.
E eu sinto tanto.
Talvez eu sinta demais. Talvez eu pense demais.
Exageradamente.
Exagero ao pensar, exagero ao sentir - me falta o equilíbrio.
De pouco tenho certeza. Mas sei que sinto falta de sentir o que nunca senti, sinto saudades do que nunca tive.
E eu quero tanto.
É certo?, eu me pergunto.
Minha mente diz que não.
Meu peito discorda.
E no final, de tanto pensar, eu só consigo sentir ainda mais.